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quarta-feira, 22 de março de 2017

Para Refletir - Os Juízes de Rua e o Achocolatado Roubado

Olá leitores!

Este texto escrevi há muito tempo, creio que no ano passado. Tentei publicá-lo mas não tive êxito e visto que o propósito dele já se foi então resolvi publicá-lo por aqui mesmo no blog.

Alguém lembra do comerciante que pôs veneno para rato no achocolatado? Vamos ao caso!

Os Juízes de Rua e o Achocolatado Roubado


                Para alguns ainda existe a necessidade de fazer justiça com as próprias mãos. Com a nova moda de sermos juízes uns dos outros existe a iminência de tragédias a qualquer momento, chegando inclusive a nos igualarmos aos que chamamos de bandidos.
                Foi o que aconteceu em Cuiabá no Mato Grosso, quando um homem por vingança de um ladrão que arrombava seu comércio, colocou veneno para rato em uma grade de achocolatados que por consequência foi roubada e vendida a menor preço a uma família de pais desempregados com um pequeno menino para alimentar.              
                No desespero da falta de alimentos em meio à atual crise do país, compraram o produto do furto que estava envenenado e com o dinheiro da venda dos produtos o ladrão poderia manter seu vício em drogas por algum tempo.
              Pouco antes, um amigo da família do menino que havia tomado o achocolatado também havia passado mal e precisou ser internado, mas infelizmente o menino de dois anos não teve a mesma sorte e faleceu pouco depois mesmo sendo levado ao hospital às pressas.
                Neste caso um homem de 61 anos, comerciante, sem passagens anteriores pela justiça, que para todos seria um homem de bem acabou de entrar para as estatísticas da criminalidade por achar que se a justiça fosse feita com suas mãos ele teria resultados satisfatórios. 
             Por pior que seja houve resultado, pois ele foi indiciado por dois crimes. O primeiro por tentativa de homicídio contra o adulto que tomou a bebida e o segundo pelo homicídio qualificado pelo emprego do veneno.
                Quanto ao resultado, contra quem ele responderá pelo homicídio? Contra o menino que faleceu ou contra o ladrão que ele pretendia de ter matado? O Direito tem as suas cartas viradas para baixo e neste caso não será diferente. O comerciante responderá pelo resultado morte, é claro, porém contra a vítima que ele pretendia ter atingido, no caso, contra o ladrão. Isto porque no Direito Penal existe o erro de execução sobre a pessoa conhecido como "Aberratio Ictus". Neste caso, o agente que pretende acertar A termina atingindo B, e desta forma ele responderá pelo que se chama de vítima virtual, ou seja, pela vítima que ele pretendia ter atingido, conforme prega o art. 73 do Código Penal.
                Quanto ao bandido que nesse caso quase foi condenado pelo juiz da milésima vara de rua implantada em mais uma das comarcas populares do país, já havia condenação contra ele, que foi conduzido para o presídio e responderá por furto.
                E a justiça? Este senhor acreditou que bandido bom era bandido morto e vejam só o que aconteceu. Ele está marcado pelo resto da vida por ter colocado fim na vida de um menino que ele sequer viu na vida. Adiantou de que a vingança que ele planejou? Ele arquitetou a morte de um ser humano que ele inferiorizava e fica muito difícil de acreditar que colocar veneno na comida de alguém não é na intenção de matar.
     Estou longe de querer defender as atitudes do ladrão, visto que ele já possui passagens pela polícia e que de santo ele não tem nada, mas nós que pensamos ser cidadãos de bem devemos pensar muito antes de tomarmos este tipo de atitude que por consequência pode resultar nesta triste inversão de papeis. Você pode estar aí dando razão para o comerciante, mas vejam só o desastre deste resultado: é algo que ele jamais poderá remediar.
                Portanto, vamos refletir um pouco no que pode acontecer na sua próxima reação de ódio, se valeria a pena se trocar com um bandido ou até mesmo premeditar a sua morte, pois o resultado pode ser completamente diferente do esperado e você pode ter sérios problemas. A vida continua independente de uma caixa de achocolatado roubado.

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